Jogador Zico




Zico foi o último jogador completo do futebol brasileiro. No meio de campo organizava o time, do meio de campo armava o jogo. Do ataque preparava a jogada e o gol do companheiro, no ataque fazia o gol ele mesmo. Era armador e artilheiro, intelectual e operário. Artilheiro com a perna direita e a perna esquerda, artilheiro com a cabeça. Artilheiro de bola parada, artilheiro em alta velocidade.

Velocidade de gesto, velocidade de pensamento. Por isso escrevi, certa vez, que Zico jogava um futebol ao mesmo tempo de reflexos e de reflexão.

Uma jogada de Zico: a rapidez com que a concebia e a precisão com que a executava!

Foi craque e profissional exemplar. O Flamengo que o diga. Poucas vezes na história, um jogador terá se identificado tanto com as cores da camisa que vestiu em campo e da bandeira que a torcida levantou por ele nas arquibancadas.

Lembro-me de sua despedida do Flamengo, há 13 anos, com 100 mil pessoas no Maracanã. Há quanto tempo, por sinal, dois grandes clubes não levam 100 mil pessoas ao Maracanã. Pois um jogador - ele mesmo, Zico - levou numa noite de fevereiro de 1990, em amistoso de despedida.

Naquela noite eu percebi as lágrimas de duas moças na tribuna do Maracanã e naquela noite eu percebi que nem tudo estava perdido no futebol de um país em que até as moças choravam lágrimas de saudade por um ídolo dos estádios.

Pois bem: de lá para cá, o Brasil conquistou mais duas Copas do Mundo.

Zico não esteve em nenhuma das cinco Copas que o Brasil levantou. Mas não há o que lamentar. Hoje, do alto dos 50 anos dele, eu posso dizer daqui: se Zico não foi campeão do mundo, azar da Copa do Mundo que perdeu um grande campeão.

O que importa é que o futebol ganhou Zico.

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